segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O ego e o ogro

Gene
Nego?
Nego.
Renego.
Regenero.
Renegro.
Sangue ogro.
Meu ego
de gelo.
Goiaba.
Miçanga.
eu de tanga
ao som do tango.
E no samba
do criolo doido
a cor é
furta-cor
qual
fruta do conde.
Conde
condenado
aos fatos dados.
Fina faísca
de sangue negro
é púrpura
e papiru.
Pau oco:
retoco
e re-toco
o troco.
Qual ogro
me nego
quando renego
o sangue negro?
Não é azul:
é dourado.
Pena
que
o
ouro
brilha menos
que a tinta retinta.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Narciso às avessas

Naquela imagem baça
que eu via refletida no espelho
através das lágrimas
repudiei o que vi.
Encontrara meu igual
mas, talvez, por falta de amor próprio,
não me senti no ninho.

É que, saída do lamaçal
ainda havia barro nas penas de minhas asas
e quando cheguei a esta terra ensolarada
a lama secou formando uma crosta
que ressecava e rachava
e me pinicava toda.

Então eu não sabia
como era o calor do sol
sem aquela camada ressequida.
Mas veio uma chuva salgada
e me lavou com o iodo de Iemanjá:
então eu pude apreciar
aquelas flores dos cactos
que não são como a das roseiras
pois são mais belas
e crescem num solo árido
extraindo o melhor da seiva
e reelaborando-se
à parte do que é tido como o padrão.

Mas quem falou
que as rosas são superiores aos cactos?
Eu amo os cactos
que não espeta quem sabe tocá-los.

A fissura no espelho se abriu
e o reflexo ficou mais nítido:
é que também eu era um cacto.
Mas não sabia.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sucrassal

Peguei o jornalzinho
e pus no meu embornal
brotou poesia dali
feita de açúcar e sal.
Hoje carrego um jardim
e um pomar colossal
sem falar, é claro, do canteiro
cheio de Flores do mal.